“Penso que as suas histórias terão
amplo sucesso entre os apreciadores do gênero”. H. Dobal,
considerado por muitos a maior expressão da poesia contemporânea piauiense,
estava certo em seu comentário acerca da obra de Magalhães da Costa.
Esse menino traquina - como o próprio autor se definia – tornou-se, ao lado de Fontes
Ibiapina, um dos maiores contistas do Estado, em todos os tempos.
Casou-se com Julia Lima, com quem teve os filhos Jomali Lima
Magalhães e Joseli Lima Magalhães.
No campo profissional, abraçou a magistratura, desempenhando o cargo de
juiz de direito nas comarcas de Pio IX
(1967), Alto Longá (1969),
Miguel Alves (1970), Piripiri (1974), Parnaíba (1979) e Teresina
(1983). Alcançou o ápice da carreira ao ser nomeado desembargador do Egrégio
Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, onde assumiu diversas funções,
dentre as quais presidente da Primeira Câmara Especializada Criminal e
das Câmaras Reunidas Criminais. Integrou, por último, a Corregedoria
do Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Piauí. Pelos relevantes
serviços prestados à magistratura mafrense, recebeu a Medalha da Associação
dos Magistrados Piauienses.
Foi como escritor, no entanto, que Magalhães da Costa se
realizou pessoalmente e alcançou singular notoriedade. O sucesso de crítica e de
público alcançado por sua produção literária responde, por si só, a qualquer
questionamento ou opinião menos abalizada. Publicou: “Casos Contados”
(1970); “No Mesmo Trilho” (1972); “Estação das Manobras” (1985);
“Casos Contados e Outros Contos” (1996); e “Traquinagem” (1999),
obra essa lançada pela Imago Editora,
em circuito nacional, indicada para estudo de concursos vestibulares de
universidades públicas e adaptada para o teatro. Seus contos compartilharam
diversas antologias e foram objetos de importantes estudos literários, dentre
os quais podem ser destacados: “Crime & Mistério” (1977); “Ó de
Casa” (1977); “Piauí: Terra, História e Literatura” (1978); “Novos
Contos Piauienses” (1983); “Outros Contos Piauienses” (1986); “Poesia
Teresinense Hoje” (1988); “Passarela de Escritores” (1997); e “Literatura
Piauiense para Estudantes” (1999). Como jornalista, colaborou com diversos
periódicos piauienses, tais como: “Almanaque da Parnaíba”; “Jornal do
Piauí”, onde dirigiu
as páginas de literatura; “O Estado”; e “O Dia”. No jornal “Meio
Norte” manteve uma coluna de crítica literária semanal.
As pessoas e os logradouros públicos de Piracuruca, bem como as
propriedades rurais da família e seus moradores, pelos idos dos anos 40 e 50,
foram testemunhas do desenvolvimento do menino e do adolescente Zé do
Branco. Transformaram-se, depois, em personagens e cenários das
histórias do escritor Magalhães da Costa. Em seus contos,
relatou: as brigas com o Nenen do Zeba; os atos de fé promovidos pela Tia
Emília; as quizilas entre
os caboclos do Curral de Pedras; os
casos de doenças e os funerais de familiares e conhecidos; as caçadas de
passarinhos; os prazeres experimentados com a Negra Zú... Magalhães
da Costa soube, como ninguém, reproduzir os costumes, os credos, os
valores do povo piracuruquense... Conseguiu captar, com maestria, os elementos
essenciais que compõe o amalgama cultural da gente simples de sua terra natal e
redondezas.
Magalhães da Costa
tornou-se imortal da Academia Piauiense de Letras, em 07 de agosto de 1998,
ocupando a Cadeira nº 34, cujo patrono é seu conterrâneo Anísio de Britto Mello. Membro da Academia Parnaibana de Letras,
da Academia de Letras do Vale do Longá e da Academia de Letras da
Região de Sete Cidades (Cadeira nº 03; patrono Raimundo da Costa Ribeiro). Patrono da Cadeira nº 33 do Instituto Histórico Geográfico e Genealógico
de Parnaíba. Membro da União Brasileira de Escritores, secção do Piauí
(UBE/PI). Conquistou prêmios em certames regionais e nacionais, bem como
recebeu diversos títulos honoríficos, dentre os quais o de “Intelectual do
Ano 1986”, recebendo o Troféu Fontes Ibiapina.
“Contista de estilo inconfundível”; “[...] de linguajar simples e
direto”; escreveram alguns. “É um dos bons contistas da moderna
literatura brasileira”, citou outro. Altevir Alencar assim se referiu: “Sendo um exímio artífice da arte de narrar,
por natureza, tem a seu favor o fato ponderável da vivência, a erudição
humanística, a temática original, o estilo pessoal, enfim, toda a gama de
atributos de que se constitui a alma do verdadeiro contista”. Francisco
Miguel de Moura definiu: “Não o vemos de maneira nenhuma atrelado ao
carro dos vanguardistas. Nem por isto se deixa estratificar. Cresce sem temor,
cumprindo o destino que lhe está traçado: o destino de um bom contista”.
Imortal em tantas academias, Magalhães da Costa encerrou,
em 18 de junho de 2002, sua participação finita na grande aventura humana. Sua
partida deixou menos brilhantes os meios literário e jurídico piauienses,
privando a todos do experimento de outras dádivas, seja por seu testemunho
ético e moral, seja pela continuação do conjunto da sua importante obra.
Inéditos, ficaram diversos contos que seus familiares pretendem publicar.
No livro sagrado do cristianismo há uma passagem que contém o seguinte período:
“Então Jesus dizia para eles que um
profeta só não é estimado em sua própria pátria [...]” (Mc 6:4). O
interessante versículo, atribuído ao evangelista Marcos, denuncia a dificuldade enfrentada por Jesus de operar suas maravilhas em Nazaré da Galiléia, sua cidade natal. Não se pode
dizer que, em Piracuruca, Magalhães
da Costa seja totalmente ignorado. Em 28 de dezembro de 1989, a Prefeitura Municipal outorgou ao
contista, bem como a diversos outros conterrâneos, o “Diploma do Mérito Centenário”, no ensejo das comemorações
alusivas ao centenário da emancipação política do município. Na justificativa
do mérito lê-se: “[...] Pelos relevantes serviços prestados,
seu dignificante exemplo de servir à terra natal e pelo acréscimo de seu nome
na promoção do desenvolvimento social, econômico e cultural de Piracuruca”.
Em cerimônia realizada a 28 de junho de 2008, o cabedal de valores que o garoto
Zé do Branco assimilou e o magistrado Magalhães da Costa
cuidou em preservar, honrar e aperfeiçoar recebeu uma justa homenagem póstuma em
sua plaga mãe: o antigo logradouro conhecido como Praça de Santo Antônio, depois de passar por obras de recuperação e
reforma arquitetônica, foi novamente entregue pela Prefeitura Municipal à população local, renomeado como “Praça Desembargador Magalhães da Costa”.
No que se refere à produção literária, no entanto, o criador de “No Mesmo Trilho” permanece praticamente
ignorado pela maioria da população piracuruquense. A bem da justiça, como
exceção à regra, tem-se o trabalho de autoria da professora Glicínia de Aguiar, intitulado “Magalhães da Costa na Escola” (2001),
onde a então acadêmica do curso de Licenciatura
Plena em Letras efetua uma análise crítica-interpretativa das obras “Casos Contados e Outros Contos” e “Traquinagem”.
Em referência ao legado de Magalhães
da Costa, o renomado escritor Assis Brasil assim asseverou: “Na captação da beleza estética de um dos
mais importantes escritores, não somente do Piauí, mas do inteiro país, o
escritor, entre inúmeros outros de um Brasil literário desconhecido, precisa
ser mais divulgado, mais lido, tomando-lhe o pulso quer interessados críticos,
quer leitores inteligentes”. Á luz da opinião do grande romancista
piauiense, urge, portanto, que ações públicas e privadas sejam desenvolvidas - nos
moldes de círculos literários, feiras culturais, salões de livros e outras
iniciativas do gênero – visando promover o conhecimento e o reconhecimento do conjunto
da obra do ilustre contista piracuruquense no rincão em que nasceu e região, e,
ademais, por todo o Brasil.
Publicado em:
Jornal Acesso Real, Ano I, nº 01, de
01 a 14.11.2007; coluna “Calidoscópio Cultural” (primeira versão);Sítio www.piracuruca.com, data de 14.01.2008; coluna “O Mermorista” (primeira versão).
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